Recebi e aceitei com muito carinho o convite da Escola Municipal "Castro Alves" para escrever dois textos homenageando dois alunos que marcaram, de forma diferente, mas igualmente importante, a história da Escola, que entrega hoje mais uma turma de concluintes do 5º ano do Ensino fundamental.
Ao fazer meu relato, me vi vivendo tudo junto aos meus colegas de profissão e imagino o quanto tais fatos mexeram para sempre com suas vidas.
A página de um livro é passada a cada instante, mas os momentos nele registrados ficam entranhados na memória, no coração e contribuem para a construção da história pessoal de cada um que fez parte dela. E na de todos, as cenas de uma MULHER GUERREIRA e de um MENINO ANJO estarão eternizadas.
O dia
de hoje é especial para a Escola Municipal "Castro Alves", que celebra a conclusão de mais uma turma
de 5º. ano do Ensino fundamental. Esses momentos marcam a vida de seus profissionais,
pois as histórias de cada aluno e de cada aluna que pela Escola passaram e continuam passando, ajudam a
contar a sua história. São tantas e tantas que se reunidas dariam, certamente, muitos livros, dos quais alguns poderiam até se transformar em best sellers. Mas, como tal
façanha seria difícil de ser realizada pelos riscos de se esquecer pessoas ou fatos significativos, a melhor saída foi, então, homenagear dois
alunos para representar tudo que foi vivido e aprendido ao longo de anos e anos entre alunos e professores. Os escolhidos: D. Maria da Silva, a mulher guerreira e Ueslei Fernando da Silva, o menino anjo.
D. Maria da Silva, uma guerreira
“Marias” existem aos milhares espalhadas pelo Brasil afora;
“da Silva” podemos dizer que o quíntuplo de Marias, pois é sobrenome também dos
Josés, dos Antônios, dos Pedros...
Mas, Maria da Silva, nascida em 27/04/1938, casada com
Antônio Francisco, por todos conhecido como "Cobrinha", mãe de sete filhos, avó de doze netos, três bisnetos, moradora do bairro Campo dos Dias, em Itumirim...
essa só existe uma e tem uma história incrível para contar.
Há cinco anos, em 2008, aos setenta anos de idade, essa mulher
corajosa resolveu estudar. E imaginem: quis começar o que não teve oportunidade
de fazer no passado, na Escola Municipal “Castro Alves”, matriculando-se-se na
primeira série do Ensino fundamental, ao lado de meninos e meninas de seis anos de
idade!
No início foi para todos uma surpresa, pois até então não
havia precedentes desse gênero na história do "Castro Alves". Mas D. Maria foi recebida de
braços abertos. A ideia que se passava na cabeça de todos era de que não seria nada fácil para ela ter que conviver
no meio de tantas crianças agitadas, barulhentas e extremamente ativas, nem para os professores, tão acostumados a lidar
apenas com eles, os pequeninos.
Que surpresa boa essa mulher guerreira, sonhadora e destemida proporcionou a professores, funcionários e colegas! Foi uma excelente aluna: atenta, responsável, comprometida
com suas tarefas e frequente, não perdia uma aula sequer! Foi um exemplo bom
para seus colegas, e para os educadores, uma lição de vida, de
determinação e perseverança.
D. Maria foi aluna dos professores: Sueli, Lúcia, Valquíria, Luciana, Maria
Amélia, Luciano e Bernadete, educadores que a orientaram muito bem durante sua vida estudantil. Mas, mesmo com profissionais tão
dedicados, enfrentou desafios que, certamente, não lhe foram fáceis, e ainda
enfrentou a dificuldade de ter que conviver com meninos e meninas de idade tão diferente
da sua. Porém, nada disso a fez desanimar. Driblou cada problema que a ela se
apresentou, e, sempre com um sorriso no rosto, seguiu tranquila a jornada na
realização de seu sonho: ser alfabetizada, poder ler e compreender melhor esse
mundo do qual já é professora. Sim, ela não foi só uma aluna, foi professora para
os professores e para os alunos, pois com ela aprenderam inúmeras lições. Entre elas, aprenderam que
não pode existir barreira capaz de impedir a realização dos sonhos, barreiras que impeçam a busca daquilo que proporciona a felicidade tão desejada!
D. Maria foi no “Castro Alves” uma mistura fantástica e curiosa: foi
criança, aluna, mãe, avó e bisavó. Como criança e aluna, brincou, aprendeu, fez
lições de casa e trabalhou em equipe. Como mãe, avó e bisavó ensinou todos a serem mais amáveis, carinhosos e fraternos. Como pessoas, aprenderam com ela que
sempre é tempo para começar, mesmo que, inicialmente, esse começo pareça algo
impossível. Como ser humano ela ensinou
que para ser feliz basta ser você mesmo e encarar com coragem a vida,
independente do que os outros pensem ou digam. Se não tem nada de errado, que
mal há?
Hoje o "Castro Alves" está feliz por ter ajudado D. Maria a realizar
seu sonho; todavia, há um pouco de tristeza no olhar de cada um, pois não irão vê-la mais nas salas
de aula, nos corredores entre as crianças; não verão mais seus olhinhos
ávidos de conhecimento, seu jeito carinhoso para com todos nem sua alegria que enchia a escola com uma energia positiva. D. Maria vai agora seguir seu caminho de guerreira ensinando a
tantos outros com as quais conviverá nesta vida daqui para frente.
Parabéns, mulher aluna, mulher mãe, mulher avó e bisavó
pelo que alcançou! Jamais será esquecida e, se algum dia a história do “Castro
Alves” se transformar em um livro, será uma de suas mais
encantadoras personagens. Os parabéns se estendem aos seus familiares, que
certamente, estão orgulhosos de seu grande feito. A eles o agradecimento
pelo valoroso empréstimo, por cinco belos anos, dessa doce criatura que tanto
acrescentou à vida de muitos.
Boa sorte D. Maria, mulher guerreira. Siga com Deus seu caminho, sabendo que
conquistou muitos amigos nestes anos como estudante e que fará parte, para sempre, da história da
Escola Municipal “Castro Alves”!
Minha avó minha inspiraçao, obrigado pela homenagem a esta pessoa que para mimé muito querida!!!!
ResponderExcluirEmocionante texto/depoimento.
ResponderExcluirEmocionante exemplo da D. Maria, a superação faz as coisas sse tornarem ainda mais especiais.
parabéns pelo texto, parabéns pelas homenagens...
realmente emocionantes...