Tomamos atitudes que recriminamos. Sem querer (ou querendo) sabe-se lá, e, com jeito impulsivo, quando vimos... já fizemos e pronto. Depois, fica a sensação de não ter agido como deveria. E aí? O que fazer se não conseguimos nos segurar quando é preciso? Vem, então, consciência pesada, arrependimento, tentativa de corrigir o erro, de consertar o inconsertável.
Tem horas em que isso é pior. Falamos, falamos, falamos... e mandamos entregar. Depois deletamos... fácil no mundo virtual, tarde no real. E temos, geralmente, nossos alvos preferidos: os que estão perto e a quem consideramos muito. Se é com os outros, fora desse grupo reduzido, desculpamo-nos e pronto. Já com o grupo do coração, fica martelando na cabeça, incomodando. Sentimo-nos como uma criança nessas horas: verdadeira, ingênua, mas pirracenta, sem senso de acerto e erro, inconsequente.
É difícil para alguém que não nos conhece profundamente chegar a nos entender.
O que fazemos, em muitas vezes achamos ser imperdoável... porém, como o alvo desse bombardeio sempre tem seu lado compreensível (ou pelo menos esperamos que tenha!), sabemos que seremos perdoados, embora achemos que não deveríamos.
Quando ficamos olhando e pensando no que fizemos ou estamos fazendo, uma angústia, geralmente, invade a alma. E o tempo passa... e lá estamos nós a fazer tudo novamente. Tem jeito?
Às vezes, prestes a cometer algumas dessas loucuras ... falamos para nós mesmos que não devemos. Só que a cabeça dura costuma não deixar e acabamos achando não estarmos errados, pois só estamos abrindo o coração para quem nos entende e lida bem com isso.
Ai ai, juízo, aonde você foi parar quando mais precisamos de você!?
Dizem que quando jovens, somos ousados, atirados, voluntariosos, destemidos... e de fato o somos. No entanto, por que certas atitudes os jovens deixam de tomar quando as deveriam ter tomado?
E por que só quando na idade adulta ousam fazer o que não se teve coragem na juventude? Que cabeça sem graça essa, né!
Existem pessoas que quando ficam mais velhas, endoidecem de vez! E como endoidecem! Será que somos uma dessas? Provavelmente. E burros também, pois nessa doidura toda, só conseguimos abrir o coração nas entrelinhas.Temos vontade de revelar claramente o que está nele! Dizer sem medo de olhar nos olhos, sem vergonha, sem constrangimento de dizer o que, infelizmente, não adianta mais, afinal... a hora ficou no passado; agora não faz mais sentido.
Está vendo como não conseguimos, nem quando tentamos sinceramente e de boa vontade, sair das entrelinhas?
Pegando um pedacinho de Milton Nascimento: tem coisa que é "...pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração" para sempre!
E para sempre ficar se lamentando, com frases de arrependimento:
- Por que um dia lá no alto, sentado ao lado... não falei?
- Por que numa tarde que foi aos poucos escurecendo, sob a luz do luar...não falei?
- Por que tantas e tantas vezes fiz o tempo passar e enrolando fui levando e... não falei?
- Por que não perguntei quando poderia ter ouvido uma resposta que não a "pode falar que gosto de ouvir suas partilhas."?
- Por que só agora que é tarde demais e quando o tempo, terrível juiz dos indecisos, não volta mais?
- Por que só agora, quando as oportunidades passaram, os caminhos foram seguidos em rumos opostos, a vida se fez meio, dividiu-se?
Ah! Como é triste o lamento de quem deixou a caravana passar!
Poderíamos ter, um dia, lá atrás, ouvido um "não". Teria doído, (quem sabe?!), mas passado. A incerteza de quem deixou de fazer ou de falar, hoje, é pior. A covardia e o medo nos impediu de, pelo menos, saber.
E "a fila andou"... a barca seguiu mar adentro. E como se num sonho estivéssemos, em que tudo se mistura e nada é claro, tentamos levantar os olhos e pelo menos ver o que o mar levou e não traz mais de volta. Ainda vemos no horizonte a barca, mas longe, longe demais, intocável. E do lado de cá, na praia... nós, os que não souberam ousar, embora, talvez, ousemos, agora, além do conta, quando já não mais faz diferença e não se pode nem mesmo acrescentar um "pingo" no i!
Sentirmo-nos como um mudo que tenta gritar e não consegue nem pode é duro! Então... é segurarmos a mão dos que ao lado estão e caminhar sendo feliz e fazendo ser.
Que tal sermos mais diretos nas nossas relações? O ficar pensando demais para fazer, pode não ser um bom negócio numa época em que as oportunidades não ficam a esperar por tempo indeterminado. Se deixarmos passar... ficaremos com a sensação de que alguma coisa poderia ser diferente hoje. É claro que me refiro àquilo que não nos prejudicará nem ao outro. Mas refiro-me a atos simples, que podem fazer muita diferença e, principalmente, podem nos impedir de carregar conosco algo pela vida a fora sem, ao menos imaginar, se teria dado certo ou não, se teria sido melhor ou não, se teria valido a pena ou não!
É isso...