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Sinta-se à vontade em passar pelos meus textos. Leia-os sabendo que, quem os escreveu não teve nenhuma pretensão, a não ser a de brincar com as palavras, uma de suas maiores paixões. Obrigada pela visita!

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Parede rabiscada



Aquela parede (Mococa e Paraíso)
Achei a parede da antiga morada
Toda rascunhada de giz e carvão
Lembrei dos irmãos
Da nossa turminha
E a nossa mãezinha ensinando a lição
Parede que sempre papai repintava
Mamãe se esforçava pra gente aprender
Se raspar a tinta por baixo aparece
Cebola com s e sapo com c

Era nossa lousa aquela parede
Nós tínhamos sede de ler e escrever
Pois a minha letra eu reconheci
E chorei de rir com o que pude ler
Quatro x quatro na frente dezoito
E dez - oito ali estava três
Agora crescido correndo a vivência
Eu vejo a inocência que o tempo desfez


A letra dessa música fez retornar-me à minha infância. Ao ouvi-la pela primeira vez foi como se passasse um filme em minha cabeça dos tempos de criança, da minha família simples, da minha casinha pequena, mas recheada de muito amor, mas muito amor mesmo.

Não vou dizer aquela frase tantas e tantas vezes repetidas "Eu era feliz e não sabia!", pois eu era feliz sim e sabia, como continuo sendo feliz e ciente disso hoje. Mas essas lembranças me remetem a momentos especiais e particularmente marcantes de minha vida, em que fui, especialmente, feliz. Alguns fatos ingênuos e aparentemente tão sem importância, são os mais intensos. Talvez não vistos assim na época; porém, com o olhar de agora, foram demais!

Eu e meus irmãos tínhamos a mania de desenhar nas paredes lá de casa. No quartinho da sala, como chamávamos um espaço especial de nosso lar, eles e eu desenhávamos o que sonhávamos. Eram bonequinhos com corpo de formas retas, cabeça redondinha e alguns fios de cabelo - esquisitos!!! - mas eram lindos na nossa imaginação. Também gostávamos de fazer bonecos só com traços, aqueles bem fininhos. Desenhávamos, exatamente como diz a música, com carvão! Alguns eram com lápis, mas tínhamos que economizá-los, então o carvão servia bem mais ao propósito.

Eu ficava em cima da cama brincando, sonhando e desenhando! E o mais interessante disso tudo é que meus pais falavam que não era certo rabiscar na parede, mas... a gente apagava e depois rabiscava, escrevia e desenhava de novo. Era mesmo como se a parede fosse o nosso quadro ou o nosso caderno. Havia lá também as continhas de matemática, os nomes das pessoas queridas, desenho de árvores e animais. Não eram obras de arte naqueles dias, mas se as pudesse resgatar, hoje seriam arte para mim e muito valiosa!

Essa naturalidade e simplicidade própria de minha fase de criança me traz o gosto de um passado com cheirinho bom e de lembrança de família reunida, na qual o respeito mútuo imperava. Que saudade daquele tempo em que essas qualidades faziam parte da vida sem nenhum artifício ou objeto de conforto e necessidades criados atualmente!

O fato de escrever na parede era exatamente pela falta de outros recursos como cadernos, lápis, borracha. O que tínhamos era a conta! Tudo era valioso e não se desperdiçava. E também não se conseguia com facilidade. Para a escola levava meus cadernos em saquinho de açúcar e não me envergonhava disso. Nunca reclamei ou pedi algo a meus pais que sabia que não poderiam me dar. Contentava-me com o que tinha e nem por isso deixei de ser menos feliz.

Não ganhava presentes como as crianças de hoje. Minhas alegrias especiais estavam em alguns momentos específicos do ano. Festa de outubro era a única em que ganhava uma roupinha nova! E como era bom! Teve um vestido que ganhei nessa época  e me vejo vestida nele como se tivesse sido ontem. Até do cheirinho de novo me recordo!

Essa festa também me remete ao gosto do picolé que meu pai me dava depois das cerimônias religiosas. E era só no domingo, nos outros dias não! Se bem me recordo era só nessa época que ganhava esse geladinho! E não reclamava nem fazia pirraça. Pelo contrário, amava a chegada da data, pelo que representava no religioso e pelo vestido e picolé que sabia que teria!

No Natal era a comemoração mesmo do Nascimento de Jesus! Presente? Uma vez ou outra. Lembro-me de alguns, como uma boneca de papelão que meu pai deu para mim e minha irmã e que a destruímos porque resolvemos dar banho nelas! Desmancharam!!!

Certa vez ganhei um ônibus bem pequenino, de lata, mas inesquecível! Fazia um barulhinho ao tocar no chão que me encantava. Outra vez o presente foi uma sombrinha. Esses eram nossos brinquedos, nossos presentes. Muito poucos, mas tão agradáveis! Nunca saíram de minha memória! E os que nunca chegamos a ganhar não nos fizeram falta nem foram motivo de choro e cara feia.

Que boa essa fase de minha vida! Sem luxo nem grandeza, sem desperdício, sem conforto, mas com amor de sobra!

Os ensinamentos de meus pais, a forma com que educaram a mim e a meus irmãos, fizeram-nos dar um valor especial a tudo que hoje somos e temos. 

Dos desenhos feitos na parede, das poucas roupas que tínhamos, dos raros presentes, do picolé de outubro, das orações em família, dos passeios com sabores de eterno... ficaram as lições e a receita para uma vida feliz. 

Hoje tenho muito mais do que nem sonhei. Agradeço a Deus por isso, mas se não tivesse saberia viver como vivi um dia.

Um comentário:

  1. A letra desta canção realmente nos relembra a infância pobre, mas muito, muito feliz. Parabéns aos autores da canção: Caetano Erba e Paraíso. parabéns à dupla que faz uma bela interpretação, carregada de emoção. E parabéns à autora do texto que traz à nossa memória momentos de muito significado que marcaram para sempre nossas vidas. Zizi eu te amo!
    Esta canção é uma das mais tocadas no programa ACORDA CIDADE e você pode ouvi-la em nossa programação que vai ao ar segundas e quartas de 5:45 às 8:00 e sábado de 5:30 às 9:30 pela Rádio Cidade de Itumirim-MG 87,9 FM ou pelo site www.itumirimfm87.com.br.

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