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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Leite derramado

O que pode representar um litro de leite?

Nutrição do bebê, cálcio para os ossos, acompanhamento de um cereal matinal e um bom café, elemento necessário na culinária e por aí vai.

Para mim? Um verdadeiro drama!

Certa vez, ainda menina, esse litro de leite foi bem mais que o necessário para passar o dia, bebendo ou servindo de ingrediente para um daqueles deliciosos bolos caseiros. Foi motivo de lágrimas e vários outros sentimentos angustiantes e misturados que, até hoje,  retorna à minha mente como um fato forte, inesquecível.

Era rotina, naquela época, todos os dias pegar uma latinha de alumínio, amassada pelas batidas que levava, para buscar leite a mando de minha mãe. A casa do fornecedor era próxima, mas com a visão de criança, ficava bem longe. Na direção do alvo de meu "trabalho diário" vagava pensativa , cheia de ideias e imaginação, como sempre foi povoada essa mente fértil e que nunca me deu sossego. Subia a rua, virava a esquina que dava para uma trilha de terra marcada pelos passos diários de muitos que por ali iam e vinham.

Fico imaginando a cena e bem posso vislumbrá-la pintada em uma tela:  menina de cabelos lisos seguindo absorta o caminho estreito e cercado de pequenos arbustos, com seu vestido rodado e latinha de leite na mão. Feliz da vida sem nada a incomodar, nada a pesar em seu ingênuo coração.

Deixando de lado as divagações, o quadro... mal sabia que aquela cena, tantas vezes repetida, dessa vez seria diferente. 

Cheguei ao meu destino. Em minha lata foi colocado o leite e iniciei o caminho de volta. E o fiz da mesma forma de sempre: desligada, pensamento longe.

Quando já me encontrava quase em casa, mas ainda no caminho estreito no qual só cabiam os pés de uma pessoa - se mais quisessem andar por ali juntos, teria que ser em fila indiana - o "fato" aconteceu. Ao rodar a lata, como se estivesse vazia, ela virou e o leite derramou,  desaparecendo lentamente na terra seca. 

Meu Deus! Qual não foi minha agonia naquele instante! Meu coração acelerou e achei que iria saltar do peito! Parece bobagem, mas foi o fim. Como chegar em casa sem o leite? Com a lata vazia na mão? O que ouviria de minha mãe? Ficaria brava comigo, era, lógico, o que temia! E ainda tinha o fato de que era inconcebível a ideia de derramar o leite destinado à alimentação e necessidades de minha família. O que fazer?

Fiquei um tempão chorando, inconsolável, abaixada perto da lata vazia. Não tinha coragem de levantar e voltar para casa. Como explicar o ocorrido? Não tinha, afinal, desculpas. Os minutos passados ao lado daquela cena, para mim fatídica, foram intermináveis. Pensava ter cometido um erro tão grande e imperdoável. Sofri! Não sei o quanto, exatamente, fiquei ali. Não me lembro qual foi a reação de minha mãe e nem de mais nada depois disso. Só de que, na minha cabeça de criança, esse fato foi forte, um dos dramas maiores dessa fase! 

Parece estranho pensar que um simples derramar de leite pudesse causar tantos sentimentos de derrota e medo. Mas causou. E  minha mãe não era tão brava assim! Era boa, mas enérgica. Acho que merecia a repreensão pela  falta de concentração. Se fui ou não... não me lembro, mas jamais me esqueci daquele leite derramado.

Eta leitinho danado, sô! Se alguém me dissesse que isso pudesse marcar tanto uma pessoa, não acreditaria.  Hoje... ah, hoje dou risadas do dia "motivo" de tanto choro, lamento, medo e insegurança.

O que não faz uma distração com uma lata cheia de leite na mão, heim?!

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